sexta-feira, 27 de abril de 2012

Tolos Sábios

Tolos Sábios



Hoje eu ponderava: somos tolos.
Todos tolos quando firmados em nós mesmos.
Tolos quando pensamos que somos o auge do conhecimento até que o sol acione o despertador e então novas noticias nos chegam e nosso auge já esta massacrado na base.
Acreditamos tanto no pensamento, não? Acreditamos tanto em nós. Tolos somos.
Tolos quando o homem nasce pro homem, quando o fim do homem é o homem, quando o final do homem é o pó. Tolos e sem eternidades. Tolos e efêmeros achando que os livros nos guardarão pra sempre na história, sem nem ao menos saber que bibliotecas inteiras morrerão. Talvez até pela chama que arde na mente dos sábios. Tolos criando dogmas nas lutas contra os dogmas, tolos se achando melhores e julgando pensamento com pensamentos. Tolos aqueles com toda capacidades em si mesmos. Sim. Habilmente capazes em serem tolos.
Os sábios se sentem tao  livres, não? E nem ao menos conseguem chegar a conclusão unânime do que liberdade significa.  São elevados por si, são o espetáculo, são a plateia. E eles se aplaudem.
Não lhe conte que esta peça é tolice. Ou conte-lhes.
Os suficientes tão cheios de si não sabem que estão inflados de outras pessoas lhes ditando regras, lhes consumindo a essência. Os autoafirmados são tão fortes na suas ideias até que atravessam a esquina e se encontram com outra vida. E são vidas tao diferentes que tudo aquilo que ela pensava ser a existência está em conflito.
Oh profundidaze da pobreza do saber e conhecer do homem. Guardando nossas vidas em nós seremos tao originais quanto um livro de 14 edições. Mas não nos conte isso. Pode ferir nosso ego, e o ego é sagrado. Não toque nele.
Pensamos que somos a razão, não? Mas agindo assim somos teorias só. Pedaços de ideias. Pedaços que nos esforçamos muito em maquiá-los filosofias e nos temos por satisfeitos com eles. Eles preparam nosso conforto e dizemos em nosso íntimo: estará tudo bem.
Tolice tal homem pensar que estará...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Encontro

 Encontro

 
Ela se maquiou toda e foi se encontrar com Deus.
Ela tinha olhos marcados, traçados á lápis e firmes. Olhos de quem não chora. As bochechas rosadas num belo tom saudável. Lábios vivos com um batom caro todo especial sem nenhum borrado. Ela escolheu um vestido mais longo, ela deixou os cabelos soltos e ela pintou as unhas. Também pôs um sapato caríssimo.
Ela se arrumou toda e foi se encontrar com Deus.
Agora ela estava lindamente amável...

Deus se revelou todo e foi se encontrar com ela.
Ele tinha olhos expressivos misericordiosos e cheio de lágrimas. Suas bochechas num tom pálido, meio sem sangue num tom de que não come faz dias. Lábios secos de tanto falar. Ele escolheu uma veste simples de desertos quentes, o cabelo desgrenhado e as unhas não muito bem cuidadas. Ele estava descalço.
Ele se revelou e foi se encontrar com ela.
Não havia nele beleza ou formosura que nos agradasse...

Ambos chegam ao lugar marcado...

Ele parou extasiado. Ele tinha saudades. Ele sofreu um bocado pra chegar ali. Ele queria abraçá-la. Ele sorriu e esperou-a achá-lo.
Ela chegou, olho prum lado, pra outro, evitou olhar o homem estranho e horrível que a encarava. Olhou no relógio e relutantemente perguntou ao homem se tinha visto Deus passar por ali.

Ele se entristeceu. Ela não o reconhecera. Ainda assim ele se apresentou. "Sou eu, meu amor. Estou aqui...". Ela olhou bem nos seus olhos. "Não... não pode ser você..." disse e partiu. Partiu rápido para longe daquele homem farrapinho se achando Deus.

Ele a viu se distanciando. Ele gritou seu nome para que voltasse, mas ela já estava distante andando a passos rápidos... A passos rápidos lindamente amável rumo ao inferno. Se distanciando do humilde rei que a amou de verdade...

Ela nunca conheceu Deus.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Abel e a Flauta (Sentimentos na Pauta)

Abel
{Dedicado à Míriam Márcia*}




não me faça aplaudir, me faça enlouquecer
se me arrancar o chão talvez tão bruscamente eu caia
talvez tão altamente eu voe
mas tão bruscamente alto sentirei que vale a pena viver
e vivo com o ar a escapulir, a angústia a desarmar
o riso a me exaurir, o pensamento a me afogar

e eu?

eu vivo morrendo e este é o meu auge
até em um túmulo o mal de mim foge
e assim eu tenho canções

dane-se o que vão me dizer

me faça chorar ao me oferecer prazer
eu te dou a licença, tente me render
eu prefiro a alma quebrada crescendo do pó deste chão
a loucura constrói mais que a própria construção

me faça gritar meu silencio
repensar em crescer ao assistir os desencontros
que as vezes são monstros e me chocam a você

mas hoje esta flauta me lembra da alma
na pausa esta é a prece que deixo a você

não me faça aplaudir, me faça enlouquecer!


{* Obrigado por me apresentar melhor o incrível mundo da música que realmente tem a capacidade de tocar a alma... Este texto surgiu após aquela partitura relativa da oficina de performance ... é a prova de que você esta realmente me estragando rsrs  }