terça-feira, 27 de novembro de 2012

"Boboletas"



"Boboletas"



“Boboleta”. Foi tudo o que eu entendi... O fato de a dicção ser a de uma criança de três anos e meio não me ajudou a entender nada muito além disso. Mas o que importava? Era a menina mais linda do mundo com olhos brilhando e um sorriso maior que o mundo pintado no rosto.
Pra mim foi o bastante saber que o assunto se tratava de uma borboleta.  Tal como pra ela bastou meu sorriso como resposta. Lendo-o com seu pequeno coraçãozinho e voltou correndo à cena que a encantou tanto. Eu resolvi segui-la.  Ela se pôs de novo no jardim, a roseira maior que ela.
Acariciando a paisagem com o seu doce olhar curioso á procura da  borboleta que já não mais estava ali. Era pra ser uma cena qualquer, mas pra mim não era. Era minha pequena de três anos aprendendo o que as asas fazem com os series vivos.
Quantas lembranças e sentimentos bons já me voaram pra longe? Minha infância foi cedendo ao tempo e com o crescimento a beleza de muitas coisas foi ficando pra trás. Lembrei do cheiro de chiclete de um shampo que eu gostava. Lembrei das gabirobas no campo prestes a serem devoradas como se o gosto valesse a pena. Lembrei do como a casa da minha vó parecia ser um mundo de tão grande. Tudo isso mudou.  Como borboletas partiram.
No fundo de mim um pequeno tremor. Como explica-la sobre como as coisas boas partem? Como conta-la que, tal como borboletas, certas memórias e alegrias voam pra longe de nós?
Minha princesa sem ver nada das minhas preocupações só continuava a busca pela sua borboleta. Uma busca singela. Olhos velozes, o vento levantando uma mecha de seu cabelo, suas mãos fechadas levemente apertadas. Ela buscava sua lembrança feliz.  Me pus ao seu lado ajoelhado para encarar aqueles olhos meio cerrados como de quem ainda não desistiu da busca.
 “Querida, borboletas partem... elas voam pra longe... Talvez você nunca mais a veja...”
Aquilo soou tão duro. E os olhos doces de minha criança tão profundos na minha alma. Era só uma borboleta. O que eu fiz pra torná-la uma metáfora tão triste? “Elas voam... voam pra longe...”
Ela virou o rosto pro jardim e depois tornou a fixar o olhar em mim, como quem espera o final da história. Eu a entendi... Como poderia acabar assim? Com a partida, com a dor das asas virando pontos distantes? Eu entendia, mas como dizê-la que borboletas partem e em poucos dias morrem?  Esse é o fim. Mais trágico que o meio da história: a partida vestida de eternidade.
A borboleta deixando de ser o encanto da menininha de vestido azul pra ser a metáfora da morte...  O que dizer...? Como responder o anseio da garotinha que me encarava como que pedindo esperança?
“Meu anjo...  a borboleta foi embora... sim borboletas voam... vão longe, longe... Mas sabe? Elas tem que ir... Se não forem como nascerão outras borboletas? Se elas não forem não terão mais jardins, não terão tantas flores bonitas assim... Elas tem que ir... Elas vão levar flores pra outros lugares e vão levar novas borboletas à outros lugares...”
Esse era o fim que ela precisava ouvir. Eu sei porque ela sorriu de novo antes de sair de volta ao jardim. De volta ao seu mundo de descobertas. De volta à sua alegria de quem ao ver borboletas simplesmente vê uma “boboleta” e não uma metáfora triste.
E eu? Também sorri.  No final das contas era só uma borboleta... Coberta do pólem de esperança que colheu de minha menininha, deixou semente em mim.  Agora ela tinha que partir... Levar esperança à outros lugares.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Não existe história que fale de amor





Eu sou do tipo que conta histórias de amor. Histórias que se ouvem por aí. Histórias que se podem ver nos cinemas e que fazem você chorar sem se importar se a lagrima desceu face abaixo. Eu sou bem esse tipo de pessoas, eu sou.
Não o tipo de quem vive estas histórias. Só o tipo que conta. E que inventa.  E que se emociona quando lê depois. E faço com o gosto de quem sente que a vida fica mais leve quando isso acontece.
Quando se lê sobre o amor o amor parece mais vivo. Quando se lê sobre como ele pode ser simples debaixo de uma arvore, quando se ouve uma historia de um casal num banco de rodoviária ou quando simplesmente a história é a história de quem perdeu a chance e superou a gente se sente mais leve.
Sem o fardo da existência. Sem ter que se despedir pra ir pra casa estudar ou voltar a se preocupar com a conta de luz. Nos textos o amor é tão simples... é tão simples... Eu sei o como faz bem ler uma história. E mesmo que choremos no final vamos estar mais resolvidos do que antes.
Mas sabe o que acontece? Sou o escritor as vezes, lembra? O tipo que conta as histórias, e como tal eu sei de uma coisa: histórias de amor dos livros quase nunca são histórias de amor.  Por mais que pareça. Por mais que seja lindo. È sobre outra coisa qualquer mas não o amor.
É uma historia, mas não de amor em sua essência.
Sabe o por quê? Porque falta a parte em que o personagem tem que ir embora mais cedo pra estudar pra prova do outro dia. Porque falta a parte em que ele se preocupa em pagar a conta de luz. Falta a parte em que ele esta apertado pra usar o banheiro bem na hora de dar o grande beijo final.
Faltam coisas, faltam fatos... Não se pode ser amor sem essas coisas. Não pode ser amor se os personagens não tiverem que lidar com os demais problemas da vida. Porque o que faz do amor tão vivo não é o romantismo escondido nas linhas, mas sim como ele sobrevive às dificuldades e problemas que existem.
O amor é amor quando se há diferenças entre os apaixonados, quando não se nasceu um para o outro e quando  o texto não termina com ‘foram felizes para sempre”. Só é amor se for baseado em fatos reais. E por favor não pule partes.
O amor se esconde naquelas reticências que cobrem as brigas, as diferenças do casal da rodoviária, o frio que faz debaixo da arvore, a falta da trilha sonora na cena.
O amor verdadeiro não cabe nas linhas do texto. É por isso que me contento em ser o cara que conta histórias. Porque eu estou esperando um amor maior do que os das histórias. E ele não é tão perfeito, mas é o amor verdadeiro.
É essa a história que quero contar em mim.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sonambulismo


   




   Meia noite já se foi com o medo, e os nossos olhos fechados lutam pra manter vivo e aquecido o instante entre o ultimo poste aceso e o amanhecer...
    É nessa brecha que os sonhos se desculpam por não serem reais, ou enchem o travesseiro pra dizer “Ainda não, somente espere”.
    Viu? A expectativa já existe. de repente ela já cobriu os pés e destampou nossas cabeças.
     E o nosso coração deita nisto. Não é fácil dormir
     E o despertador vai tocar. Não é fácil acordar