segunda-feira, 12 de maio de 2014

Equinócio



A porta aberta que você deixou fez ventar
E o vento trouxe o cheiro doce que eu não sei explicar
Mas me lembra que hoje dia e noite tem a mesma duração
Sempre soube da dor
Mas as mãos da vida tem um jeito forte de apertar
O coração até que não reste nada além de esperar
Que a bagunça que chamamos de sentimentos se espalhem junto as folhas ao chão
E hoje é só inicio da estação que faz tanta coisa desmoronar


quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sabor esse de decepção...




Eu nunca pensei que passaria por isto. Desilusão pra mim era só poesia. Era só fantasia. Era enredo de romances que eu lia. Era história que eu ouvia. No entanto, ó enfado de quem vive, agora pra mim desilusão é parte da jornada, é página da minha história e tem um gosto de dor que não sai da boca por nada.
Cá estou eu. E prosseguir é possível. Já me despedi do que se foi e sigo em paz. Mas o gosto de decepção insiste. O gosto das possibilidades que existiam. As possibilidades que nunca existiram enfim e me engasgaram. Mas vá contar isto ao coração... Ele nunca tinha sentido gosto amargo assim. Agora faz careta e enruga a testa. E quer cuspir. Mas engole. Decepção é tipo jiló pro coração.
É tudo tão novo e inesperado pra mim. Antes eu só pensava em construir o amor pra ser pra sempre. Agora eu sei que nem todo terreno aguenta a força deste coração meu que ama e ama bem. Agora ele sabe que há de ser necessário ser recíproca a vontade de ficar pra terminar a construção.
Mas não se avexe não, coração menino... Há de um dia ainda você encontrar um lugar firme, um lugar que seja rocha, que não estremeça por um tremor qualquer. É lá faremos o nosso lugar. Há de se achar alguém que te receba amor e te devolva também.
Então segue. E quanto ao gosto, esse gosto amargo, bebe sossego agora que o gosto há de passar. Vem logo a ti um doce pra fazer esse gosto sumir.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Me Veja Lá




           Veja minha linha do tempo do facebook. Está mais séria. Está mais limpa. Menos adolescente, está mais cheia de coisas que não são só fragilidades. Mas fragilidades eu posto vez ou outra. Vez ou outra eu fragilizo só pra não ser feito de pedra. Mas agora ela não mais se abarrota de bobagens.
          Veja minha carteira. Continua com papeis que não compram comida ou coisa qualquer. É a mesma faz anos, é minha faz anos, a mesma espessura raquítica quase sempre, mas firme o bastante no bolso de trás.
          Veja minhas mãos. Dedos longos cheios de pintas. Dedos tortos de tamanhos todos desiguais. Eu os vejo envelhecer e as unhas crescer e ainda estão firmes. Estas mãos se agarram à própria tarefa de segurar a vida que passar. Caneta, papeis, outras mãos...
          Veja o meu violão. Um pouco mais empenado, um pouco mais empoeirado, um pouco mais desafinado, um pouco mais deixado de lado. Mas ainda sabe traduzir meu coração quando se trata de clichês... Cheio de dedos, cheio de digitais, preto e tombado em um canto da casa qualquer.
          Veja o meu globo. Ele guarda dinheiro. Ele tem todas as moedas perdidas achadas e creditadas a ser uma quantia maior. Está cada vez mais pesado. A riqueza o faz parar de girar.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Sabonete



Cá estou eu no banho. Olhos fechados e os sentidos todos concentrados esperando o que o olfato os contará. E cá, sob a água a escorrer, encurvando o corpo pra sentir bem de perto o cheiro do sabonete na borda da janela estou eu.
Na brevidade de uma inspiração uma imensidão explodiu em minha mente. O que entrava nas narinas era um aroma, o que saia de minha mente eram lembranças. Saudades de um tempo em que eu era menino e passeando pela madrugada sentia aquele cheiro que era a perfeita combinação de mistério, noite, expectativas e solidão.
O cheiro de sonhos que não se realizariam mas de esperanças sem fim, o aroma de poesias que nasciam no calado do peito e de anseio de tempos outros que o futuro traria ou não. Cheiro de vento frio no rosto, cheiro de mãos quentes no bolso. De boca rachada aguardando os beijos que nunca vieram.
Cheiro de forasteiro, de não pertencer, de sobreviver. De deixar a vida correr e esperar a chuva sentado na janela e quando chover chorar. Cheiro bom de saudade.
Milhares de sensações, milhares de sentimento, tudo na minha mente e no meu nariz.
Abri os olhos.

Era só um sabonete em meu banho.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Meu eu cinza na engenharia preta e branca



Sabe lá Deus o que eu estou fazendo em um curso de engenharia. E é o “sabe lá Deus” que é a parte mais importante, pois foi ele que me pôs aqui. Mas por que? Pois bem, é aqui que tudo começa.Na minha vida acadêmica tenho convivido diretamente com alunos da engenharia e engenheiros já formados em classe lecionando. Esse convívio tem se mostrado um desafio pra mim por tantas vezes. Minha forma de ver o mundo, de agir, de pensar acaba se mostrando tão diferente que é assim que esse texto nasce: por que é pra mim tão complicado me adequar à este ambiente? Não sei ao certo ainda, mas no fim todos concordaremos que eu, desde sabe lá Deus quando, tenho um pezinho (se não os dois) nas áreas que hoje rotulamos de “humanas” e acho que é aqui que se passa a questão.
Primeiramente, devo dizer que não se trata da engenharia ser desumana. Bom deixar isso bem claro. Essa tal história de separar as “exatas” das “humanas” é bem além de suspeita um certo absurdo. Mas o negócio é o seguinte, por experiência própria, eu lhe digo que no meio das exatas, pouco a pouco tudo o que é racionalmente lógico irá se assegurar da tarefa de encher a vida de cálculos e estatísticas. O que restar além da burocracia que rege um mundo de padrões estabelecidos e perfeitos não será mais de interesse especial. Como se fosse possível descartar todo improviso e toda insegurança, nos propomos a organizar todas as prateleiras da vida em ordem numérica e sem exceções. O erro custa caro sempre, portanto não erraremos. Nossa solução tem que satisfazer milhares de indicadores e ser acima de tudo rentável.
Resumindo: esse mundo da engenharia pede preto no branco. Quando digo que só há preto no branco acredite. É assim que tem de ser. E não há espaço nem mesmo para um tom cinza, o cinza é inexato de mais para nossos olhos focados nas probabilidades controladas e resultados necessários. São engrenagens que nos movem. São circuitos interligados que nos mantém em funcionamento. São as estratégias esboçadas e gerenciadas que vão ditar o futuro.
Mas o que eu acho disso?
Eu estranhamente amo o cinza! E assim sendo sou geralmente taxado de “o cara no curso errado”. E por que esse cinza que eu tanto gosto é complicado? Bom, quando o cinza importa, quando se tem olhos para a beleza das engrenagens ou a curiosidade por detrás dos circuitos e não somente para a eficiência destes, as circunstancias e premissas da engenharia acabam se tornando algo mais pesado.
Eu acredito que tem muito mais bagagem na vida do que cabe numa estimativa. Pra mim o x da questão passa bem longe da exatidão o qual tem os engenheiros se orgulhado tanto.Eu gosto do cinza. Eu gosto do cinza do aço trabalhado tanto quanto do cinza do céu que anuncia tempestade. Aliás amo a forma como a janela anuncia a mudança abrupta do tempo, a forma como de repente o inesperado cai do céu e assalta as pessoas que reclamam como se o fenômeno climático fosse um erro que surgiu no seu dia tão bem planejado. Afinal de contas o imprevisível, o incalculável, o fora da norma, a exceção da reta é tudo bem característica dos sentimentos que nos povoam, e pelo menos eu, tenho mais sentimento que engrenagens em mim.
Eu gosto do cinza porque não somos preto no branco. Quanto pessoas, somos a inconstância, somos os antagonismos, somos os desafios, somos as descobertas. Nada tão claro e nada tão na escuridão. Somos dúvidas não respondidas e respostas questionáveis habitando mesmo recipiente. Eu gosto do cinza, eu gosto de perceber beleza na cor que se modifica no aço que funde, gosto de assistir um problema se resolvendo e a lógica se desdobrando como algo incrível, gosto da engenharia palpável, a engenharia que trabalha para pessoas e feita por pessoas que visam pessoas.
E digo mais: se for os sentimentos o desvio da reta, aquela curva inesperada, aquela variável problemática, aquele dado fora da estatística, eu bem ponho à prova toda essa tal de engenharia que os combate. Faço sim isto. Faço pois não consigo afastar de mim o tão belo cenário das relações que se desdobram por baixo de tudo quanto padronizamos.Pessoas são pessoas. Todo aquele não preto no branco me encanta. Me encanta o desdobrar das relações, a construção da história, a mente que vai transformando tudo por onde vai com seus filhos pensamentos.
A engenharia em sua indiscutível importância porém não pode ir até esta profundidade existencial para sua própria subsistência. Não são as vigas que constroem o homem que interessam ao homens que constroem pontes. Se por acaso o ser rentável bater de frente com o ser amável, maquiavelicamente a engenharia tem mente e não coração. Há em todos os cálculos e demais matemáticas a visão única de se estruturar o mundo, um mundo que realmente precisa de pontes, precisa de gestão lucrativas, precisam de máquinas e circuitos.
Então eis que talvez o problema seja eu, com minha profundidade e visão.Não que engenheiros sejam em sua essência rasos ou superficiais, pois todas as pessoas são profundas até a alma. Só que eu não consigo me despir disso e eu carrego isso pra sala de aula ou pro meu trabalho. Carrego o olho atento que enxerga a tristeza do companheiro e carrego mais sentimentos que livros na mochila.  Carrego pessoas, carrego sentimentos, carrego a busca pela beleza, carrego a necessidade de ser tudo mais vivo do que parece.
E é assim que eu, estudante de engenharia tantas vezes sobro no meio da engenharia. Deixando a criatividade roubar espaço da organização, deixando as perguntas secundarias se tornarem as principais, trocando cálculos por pessoas e tentando fazer de toda a lógica algo belo e cheio de vida que me inspire. Sim, eu preciso de inspiração.
Mas de tudo quanto já ouvi sobre não pertencer à este ambiente, hoje eu luto minha própria luta e caminho aos meus próprios passos. Como assim? Simples. Eu não sou a pessoas do curso errado. Eu sou a pessoa que se descobre. Eu não sou o músico, ou escritor, ou psicólogo na engenharia. Eu sou o engenheiro que além de engenheiro é músico, escreve e ama pessoas! E se esse for realmente meu problema, eu não ligo pra esse problema. Eu amo este problemas. Amo este meu cinza com músicas, com palavras, com sentimentos. Amo ser este incompatível.

Amo este cinza, porque talvez eu realmente não me encaixe tão bem hoje, mas quando se trata de diferencial, meu cinza, ah meu cinza, será a engenharia mais bem vivida que Deus, sabe lá porque, me deu.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Cabe em nós e cabe à nós - #Ômega em Ação





        Nada é mais transformador que pessoas. Nada tem o poder maior de aquecer corações que outro corações. E quando se trata de transformar é o próprio coração que nos ensina, que assim como ele bombeia sangue por cada parte de nosso corpo, é necessário que usemos nossa força para levar melhoria e alegria ao maior alcance possível. E tantas vezes não precisa nem mesmo cruzar a cidade para isto...
Ômega Júnior lançou o desafio: abordar pessoas, entrega-las uma rosa e a oferta de uma ajuda: O que posso fazer por você. E foi assim que o incrível aconteceu...
        “Coração com coração... Esse é o melhor presente”, disse uma senhora que pediu um abraço... E tantos foram os abraços pedidos que vimos o quão ao alcance de nossos braços está um mundo melhor. Pessoas carentes de atenção que veem no simples afeto de abraçar a certeza de um dia melhor. Foram tantos abraços pedidos que parecei até bobeira, algo pouco, mas era o suficiente. Era coração com coração.
        E quando coração com coração se unem? O que acontece? Acontece sorrisos e acontecem lágrimas, todas expressão de alegria ao receber um gesto, ainda que pequeno no seu dia de um desconhecido que parece dizer: você importa.
        E quando a bibliotecária recebeu uma rosa cuidadosamente feita à mão vieram os dois: sorriso e lágrimas. Com olhos marejados ela não tinha dúvidas: “Esta ação que vocês estão fazendo é tudo... Tudo o que eu precisava”. E nos seus olhos a certeza de que era realmente o que precisava.  Uma flor como atenção e alguém perguntando: o que posso fazer por você.
        “Todo dia faço isso, mas só hoje apareceu um anjo para me ajudar... Você poderia voltar mais vezes viu?”. Essa foi a resposta da senhora o qual pude ajudar a atravessar as suas sacolas para sua casa do outro lado da rua. E o que fez de mim anjo? O carregar as sacolas ou o simples fato de se dispor? Porque as pessoas querem mais pessoas que ajudem do que querem braços que carreguem e eis que enquanto eu fingia um peso gigante para as leves sacolas, no sorriso das duas senhoras eu era um anjo.
        Atravessar ruas eram atravessar mundos. E foi assim de um lado da rua um jovem de cabeça baixa sentado na calçada que pediu um bom dia, um simples bom dia e ao atravessarmos a rua, numa lanchonete uma mãe e seu filho. A mãe careca, devido a uma doença, que com uma faixa na cabeça e um sorriso gigante aceitou a flor e fez do abraço o bastante. Ela e o menino se despediram e do outro lado deu pra ver o homem que cheirava a flor de papel e sentia o perfume que foi lançado sobre ela. Era o cheiro de seu bom dia.
       E foi pelas escadas da prefeitura municipal que esse cheiro também foi notado. Na portaria o senhor que recebeu seu bom dia e abraço pedido fez questão de colocar a flor junto das outras em sua mesa na entrada do prédio. Era o sinal de que havia no mundo pessoas que acreditam nas pequenas ações como grandes ações. No segundo andar uma mulher que esperava atendimento e fez do próprio ato o que ela queria como ajuda e sentada ali fez questão de notar o cheiro da flor.
        Mas há simplesmente uma burocracia cega neste mundo as vezes. Depois de vários minutos esperando na tentativa de levar ao prefeito nossa mensagem, nem ao menos com a secretária pudemos falar. Pessoas correndo por entre a sala, olhando desconfiadas para nós e nossas flores, quase como que uma ameaça, e partimos então de volta às ruas, mas sabendo que enquanto aquela flor estivesse na portaria fizemos o bastante.
        E foi na rua que eu sentei junto ao senhor na calçada com um violão e toquei uma música. “Uma música de igreja” ele pediu. Uma música de esperança eu entendi. “Mesmo que meus pais me deixem, mesmo que amigos me traiam, eu sei que em Teus braços eu encontro salvação” eu cantei em sol maior. E ali ao seu lado, junto as moedas que as pessoas deixaram ficou a flor e a mensagem, e o sol maior se fez pra ele.
       E foi assim que o sol se fez pra todos nós... ao sentar com a mãe que pediu companhia até a filha sair da escola e contou um pouco de sua luta como mãe solteira para dar educação à pequena garotinha; ao ajudarmos a dona do sebo ao organizar os livros que estavam desorganizados; ao dobrarmos roupas para a atendente da loja...
“Você gostaria de ganhar essa rosa de presente?”
      Era essa a abertura para novas vidas, para algo simples mas tão grandioso. “Claro!”, “Por que não?”, “Pra mim mesmo?” ... Respostas de pessoas diferentes, de situações diferentes mas todas de pessoas. “Depende, vai me custar quanto?” respondeu a psicóloga que após ganhar de graça uma flor pediu um abraço pra seu dia ser melhor.  ” O mundo precisa de jovens como vocês que ainda acreditam...” ela disse no final...
     Em cada um um pedaço de um novo mundo que eu trazia pro meu mundo. Em cada abraço o coração com coração tão importante. Em cada flor a atenção de alunos, empresários juniores, futuros engenheiros que pararam seus dias para confeccionar flores de papel e perfumá-las para dizer ao mundo que está em nós a capacidade de transformar.
      Cabe dentro do abraço ajudar as pessoas, cabe na palma da mão e no coração. Cabe em nós e cabe à nós! De cada um que eu dei uma flor e ajudei a maior certeza que tenho é que fui eu que ganhei o presente. Sim, eu acredito. 



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Discurso Sobre Amar






Dir-lhe-ei o que fazemos quando amamos. Escreva em seu coração e não esqueça.
Escreva que você escolheu ser imperfeito junto com a imperfeição e lembre-se de pagar o preço. Não se esqueça que você se frustrará e que as coisas não irão sempre bem. Escreva que as vezes você não sentirá nada que seja melhor do que a dor. Escreva que tem lagrimas que ninguém verá e ninguém consolará. Você terá que lidar com isso sozinho Escreva isso...
Escreva pra que você não culpe o infortúnio ou para que não se arrependa. Uma vez partilhada a sua alma você nunca mais terá aquele pedaço de volta como ele foi.
Eis então o que fazemos quando amamos, e guarde isso contigo em seu coração. E quando escrever em seu coração escreva com tinta forte e letra bonita, e que fique ali à vista de todo sentimento.

Escreva:  Amar dói.