sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Sabonete



Cá estou eu no banho. Olhos fechados e os sentidos todos concentrados esperando o que o olfato os contará. E cá, sob a água a escorrer, encurvando o corpo pra sentir bem de perto o cheiro do sabonete na borda da janela estou eu.
Na brevidade de uma inspiração uma imensidão explodiu em minha mente. O que entrava nas narinas era um aroma, o que saia de minha mente eram lembranças. Saudades de um tempo em que eu era menino e passeando pela madrugada sentia aquele cheiro que era a perfeita combinação de mistério, noite, expectativas e solidão.
O cheiro de sonhos que não se realizariam mas de esperanças sem fim, o aroma de poesias que nasciam no calado do peito e de anseio de tempos outros que o futuro traria ou não. Cheiro de vento frio no rosto, cheiro de mãos quentes no bolso. De boca rachada aguardando os beijos que nunca vieram.
Cheiro de forasteiro, de não pertencer, de sobreviver. De deixar a vida correr e esperar a chuva sentado na janela e quando chover chorar. Cheiro bom de saudade.
Milhares de sensações, milhares de sentimento, tudo na minha mente e no meu nariz.
Abri os olhos.

Era só um sabonete em meu banho.

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