terça-feira, 28 de agosto de 2012

Banho, Torta, Chá




Marcava o relógio quase 21 horas, com dois amigos andando de bicicleta por uma estrada escura à beira do rio. Fizeram tanto drama, falaram tanto de adrenalina, do “Caboclo d’água”  e do mato que balançava... Tudo o que vi foi uma vaca, todo o barulho que ouvi foram pensamentos distantes e  tudo o que correu na minha veia estava longe de ser adrenalina. Talvez um sentimento de solidão, de não pertencer...
Depois uma fuga à minha antiga praça... Cheia de lembranças... Me lembrava do meu silencio, dos momentos onde simplesmente eu me sentava sozinho e as arvores eram testemunha da minha devoção. Como que algo que se perdeu fiquei ali estático, esperando saltar diante de mim a solução. Passava um caminhão pipa encharcando as ruas. Sem pensar muito, sem me importar muito larguei minha imobilidade e lancei fora minha blusa. Sem pensar muito me lancei debaixo da água...
Molhado ainda, silenciado ainda, confuso ainda, sem camisa e com uma bicicleta e dois meninos ao lado só restou tempo a uma corrida de bicicleta em volta da praça. Vento na pele não espanta pensamentos da mente... Asfalto molhado não lava confusão da cabeça, mas cheguei em segundo. O que me custou o aro da bicicleta e os freios. Pra fazer valer a palavra impulso.
Depois disso partimos para comprar uma empada em outra praça. Com uma pequena pausa pra pedir um alicate no posto de gasolina para quebrar um galho com o aro e aproveitar e encher os pneus. Frango com bacon. Pra celebrar as expectativas não criadas e dar de cara com as que pensávamos não existir. Largamos as bicicletas nos bancos e escalamos o monumento central da praça. Lá sentamos, lá comemos enquanto os carros iam e vinham nas ruas...
Depois disso tudo, com gargantas já começando a doer, com os aros tortos, com lembranças que nossos filhos ouvirão, partimos de volta ao lar. Voltamos pelo caminho na beira do rio. Os outros dois cantando musicas idiotas com vozes distorcidas. Eu com meu silencio e pensamentos também um pouco distorcidos.
Sabe... a vida nos permite sermos dramáticos as vezes. Nos permite o momento mesquinho de nos sentirmos aquele “Dane-se” ao mundo.  A vidas às vezes se deixa parecer com um seriado da televisão e tornar uma noite qualquer na noite em que você chegou em casa molhado, sem roda, com cabeça cheia...
Esta noite me doeu o parabéns que não ganhei do meu amigo e irmão. Esta noite me doeram as palavras impensadas daqueles dois. Esta noite as coisas inverteram seus lugares. E eu deixei... Esta noite a praça foi meu caminho e impulso, o caminho à beira do rio foi meu templo, o monumento da praça foi minha torre, minha bicicleta foi minha asa, meu coração foi personagem de um folhetim...
Agora aqui estou sendo a crônica dramática desta noite... Percebendo que meu drama parecia pior antes de começar a escrever. Porque quase todo drama se resolve depois de um banho quente, um pedaço de torta (mesmo que sem bacon) e um chá. Quase todo drama se resolve e o que doeu irá se curar, e o que tulmutuou vai ser calmaria e o que se quebrou se conserta.
Com o amor se supera, com a fé se retoma a caminhada, com silencio se aprende novas melodias, com ousadia se é livre, com confrontos se conforma, com esperança a asa se cola... Com um banho, um pedaço de torta e um chá o drama é menos dramático... e por enquanto isso vai bastando...

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