segunda-feira, 21 de março de 2011


Hannah


Quando ela sobe no palco meu mundo fica mais lento. Quando ela sobe no palco minha alma grita. Quando ela sobe no palco, eu sei, todos os que aplaudem, todos os que se escondem, todos que assistem têm vontade de perguntar:

“Quem é você, Hannah?”

Ela é Hannah. A menina que atrai os olhares, que transforma a peça em vida, que nos faz sorrir em dramas e enche os olhos de lágrimas quando as cortinas se fecham..

“Volta, menina! Volta para que possamos rir da tristeza, para que possamos pensar na vida como você faz...”

Ela não precisa dos holofotes. Se ela poe os pés no palco seus cabelos loiros anelados voam, seus olhos comovem todos pagantes, o silencio tapa as nossas bocas e ela dança no palco...

“Ah Hannah! Onde você aprendeu a dominar os nossos anseios? Onde aprendeu a completar a vida de quem te vê?”.

Os sonolentos despertam, os nervosos se acalmam, as mulheres se orgulham e, esteja onde estiver, a esperança sorri, o futuro decresce, o presente encosta a cabeça em nossos ombros e o passado se despede.

“Abre a boca, Hannah. Fala alguma coisa. Fala. Quebra o meu silencia e faz minha alma dançar...”

E ela levanta a voz e olha no fundo dos meus olhos e desvenda os mistérios mais importantes da vida. Nos olhos meus, nos olhos do senhor de terno escuro da segunda fileira, nos olhos da garotinha em pé na galeria, nos olhos do lanterninha mórbido...

“Como você faz isso, Hannah? Como? Por que o mundo sorri pra você? Por que meu coração cisma em também sorrir? Pra onde você leva minha angústia?”

E cena a cena, pergunta a pergunta, fala a fala o mundo perde o valor. A vida se transforma naquele grande salão e o único medo é o receio daquele momento acabar. Mas o fim chega. Mesmo aos és de Hannah e em sua última cena ela morre.

“Não, Hannah! Não faça isso comigo. Você não pode me abandonar agora. Quem vai acender as estrelas? Quem vai brincar com a sutileza? Quem senão você, Hannah? Não morra...”

Mas tão indiferente a todos os olhos lacrimejados e as mãos nervosas ela se deita e fecha os olhos...

“Quem apagou os holofotes?”

Ela despreza o momento em que quase fico de pé e choro sua morte. E o silencio agora é cruel: as cortinas vão se fechar. Hannah vai sumir e só amanhã a veremos novamente. Que espaço eterno! Mas Hannah ressurge de pé e os pagantes satisfeitos também se erguem. Todos. Todos. E aplaudem. Nada mais que a menina. Hannah. E ela se curva e nós nos curvamos e ela some.
Então cada um volta ao seu mundo de se afastar, de se esconder mas na mente de cada um as perguntas não se calam nem a esperança de um dia descobrir a resposta:

“Onde você mora, minha menina? Se pintasse os olhos seria ainda atriz? Qual o segredo de ser feliz?...”


***

Atrás das cortinas a menina se senta na escuridão do palco.
Ela esconde as mãos frias e suaves no emaranhado de pano de seu vestido.
Ela chora.

“Todos nós temos nossas cenas. Será que a sua vai acabar? Hannah, olhe ao seu redor e deixe o seu coração atuar... Em que palco agora você está? Qualquer hora, você sabe: a maquiagem vai ter que tirar...”



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