terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Barcos de Papel

Barcos de Papel



Olá menina. Que bom te ver novamente. Faz tanto tempo que não te via... Na última vez você tinha cabelos cacheados molhados e uma face mais quieta. Agora você esta mais risonha, e me parece que mais você.
Lembra de quando você veio pra cá? Lembra de todas as coisas que você pôs na sua mala e de toda saudade que ainda carrega nela? Pois é... Você mudou um pouco. Pra melhor, se me permite dizer.
Eu percebo que te fez bem ser criança o quanto pode. Vejo que seus olhos têm um brilho que muitos perdem ao caminhar nessas ruas de pedra da cidade velha. Mas seus olhos... Ah, seus olhos ainda estão vivos e queimando... Que bom. È você criança que esta me chamando pra sorrir esta noite. É você menina que esta me ensinando a assumir minhas inocências.
Eu sempre acreditei que devemos permanecer meninos enquanto podemos. Eu encontrei você. Minhas convicções podem dormir em paz agora enquanto você brinca de boneca até os 14 anos e eu de pique lata até as 22 horas.

Sabe de uma coisa? Bom, eu sempre tive receios de mim, então quando eu me encontro vazio e parado, eu faço barcos de papel. É a forma de reerguer o menino em mim vestido com uma bandeira de paz. Eu que enfrentei muita coisa enquanto cresci. Enfrentei pra crescer.
Os barcos de papeis ficam espalhados pelas cenas da minha história: são presentes a garotas que me fazem sorrir, são embarcações encalhadas em mesas de lanchonete, são meus textos perdidos no oceano do esquecimento, são memoriais sobre a mesa anunciando meu sono...

Desculpe, estou sendo muito chato? Estou conversando com a garota ou com a psicóloga? É... Você tem razão. Obrigado por me ouvir. Mas é que você me trouxe a boa nova de me lembrar que sou o que tenho me tornado. Uma história.
Você escreve também, não é? Você canta também, não é? Qualquer dia desses me mostre seus textos. Terei o prazer de lê-los. Histórias nossas são nossas histórias, costumo dizer. Histórias e canções tornam a vida mais divertida, menos seria de mais...
Incrível poder dos acordes e palavras, não é? Ao som delas a vida lembra uma dança, e aí nenhum de nós sabe dançar bem. Assim você não precisa se preocupar nem se envergonhar. Segue o básico: dois pra lá, dois pra cá. Dois montes, dois vales. Dois dias bons, dois dias ruins. Duas lágrimas e dois sorrisos... Mas não se sinta presa... Pode variar tudo isso. Você pode acreditar nas guinadas, nas mãos dadas, nas reviravoltas... Isso torna esse forró mais bonito.

Bom, estou sentindo o peso das horas gritando meu nome no ponto de ônibus. Tenho que partir de volta pro meu mundo. Mas de verdade, gostei muito de te rever... Não suma, por favor... Me prometa.
Alias fiquei muito feliz em saber que você esta entrando nesta família de sangue, de santo sangue. Você passará pelas águas onde tenho navegado meu barco. Firme sua ancora no céu, ok? Não deixe que marés altas em noites turbulentas te empeçam de ver a lua alta. Não deixe que tempestades te arranquem a certeza das coisas que não se podem ver. Fico realmente feliz por você e com você.

Então é isso...
Já roubei de mais o seu tempo. Agora realmente tenho que ir. Estou doido pra tomar um café...

Acho que não vou de ônibus, vou de barco. Vou em um dos meus barco de papel...


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