segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Fila de Pacientes - Parte 3


Luane – 18 anos

Paciente 6


Fui criada em um pomar de cerejas na parte superior de Traverse City, no Michigan. Meus pais, um tanto antiquados, costumavam reagir mal ao meu piercing no nariz, às músicas que ouvia e ao comprimento de minhas saias. "Odeio você!", gritei para meu pai quando ele bateu a porta do meu quarto depois de uma discussão. Então fugi de casa.
Eu havia visitado Detroit apenas uma vez, em uma viagem de ônibus com os jovens da igreja para assistir ao jogo dos Tigers. Os jornais de Traverse City descreviam em chocantes detalhes as gangues, as drogas e a violência na cidade de Detroit; conclui que provavelmente seria o último lugar onde meus pais me procurariam.
Um dia abandonada, mas me sentindo livre pra me divertir e viver me assustei ao ver minha foto na embalagem de leite com os dizeres: "Vocês viram esta criança?". Porém, com o cabelo tingido de loiro, e com toda a maquiagem que usava, ninguém me consideraria uma criança.
Depois de um ano, os primeiros sintomas incipientes de uma enfermidade apareceram, e eu fiquei surpresa com a crueldade do chefe. "Hoje em dia, a gente não pode facilitar",e antes que eu percebesse, estava na rua sem um tostão.
Agora minha doença esta piorando e não posso nem dormir— uma adolescente sozinha na noite em Detroit não pode nunca baixar a guarda. Agora eu fico pensando na casa de meus pais. Deus, por que eu fugi? Meu cachorro em casa come melhor do que eu agora.Como eu queria voltar, mas não posso...

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Pr. Jeilsom Andrade – 48 anos

Paciente 7


Paz do Senhor! Sou Jeílson, pastor de uma igreja muito ativa e crescente e atendo em meu escritório todos os dia dezenas de pessoas para aconselha-las e ajuda-las guiando-as nos caminhos de Deus e orando por elas e com elas. Mas um dia essa rotina abençoada foi quebrada. Minha mulher chegou pra mim e disse: ‘Miriam, sua filha mais velha cortou o cabelo’. Eu não podia permitir aquilo!
Fui até seu quarto e vi que ela tinha aparado as pontas do cabelo que nunca cortado agora aos 18 anos lhe alcançava a cintura. Irado e descontrolado perguntei a ela: ‘O que você quer comigo? Está querendo envergonhar-me, acabar com o meu ministério?’. Movido por uma ira descomedida, desafivelei o cinto, dobrei em duas voltas e bati em Miriam até que os vergões se desenhassem em suas costas e pernas. Não podia tolerar uma desviada dentro da minha casa. Disse a ela que enquanto ela morasse aqui, não iria admitir que cortasse seu cabelo novamente. Depois disso saí para o escritório.
Duas horas depois recebi a notícia mais devastadora de minha vida: Miriam havia
derramado álcool sobre todo o corpo e ateado fogo. Corri mais uma vez,
agora desesperado, e encontrei no mesmo quarto minha filha agonizando com queimaduras profundas. Naquele mesmo dia, à tarde, Miriam morreu no ambulatório de um hospital... NOTA

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Jack – 30 anos

Paciente 8


Eu trabalho duro. Duro mesmo. Onde? Numa das maiores empresas de automóveis de todo país. Gerencio a produção e sou responsável pela programação dos dados relativos as tabelas de variação de lucro. Se errar uma conta, estamos todos ferrados. Mas no fundo eu gosto do que faço.
Só tem um problema: eu quase não vejo minha família. Muitas viagens à trabalho, reuniões até tarde e toda a correria me fazem chegar muito tarde. Saio de casa com meu filho de 6 anos Nick ainda dormindo e volto com ele dormindo. Um dia ele pôs o relógio pra despertar junto com o meu e veio ao meu encontro ainda sonolento com uma bola de baseball me pedindo pra brincar com ele.
Lógico que eu não podia. Marquei com ele pro sábado, mas acabou não dando também. No entanto sei que estou garantindo para ele o maior presente que posso: um futuro seguro, melhor escola, melhores roupas e brinquedos. Ele parece não entender bem, mas eu vou dar o melhor para ele. É por isso que eu trabalho tanto.
Ultimamente ando tão cansado que não consigo nem dormir. O engraçado e triste é que eu pensava que ia tudo melhorar com o tempo mas nada tem melhorado. Agora estou estressado e doente e longe da minha família...

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